domingo, 31 de janeiro de 2010

Angra dos Reis - O paraiso ferido



As vozes da conversa animada vinda de uma roda de 20 pessoas reunidas em um trapiche é o único som a quebrar o silêncio do fim de tarde na Enseada do Bananal, em Angra dos Reis. Os turistas do grupo formado por famílias de São Paulo são os únicos visitantes remanescentes na praia onde ocorreram 32 das 53 mortes causadas pelos deslizamentos de terra que devastaram a região na madrugada do primeiro dia de 2010.

A 35 metros dali, as luzes dos fundos da pousada Satiko se acendem. A família de Renato Hadama se prepara para passar mais uma noite envolta em dúvidas. Fora o refeitório quebrados pelas equipes de resgate do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil que usaram o local como base para a busca de sobreviventes e de corpos, a pousada está intacta. Porém, ao lado da casa, a praia está tomada por enormes pedras e montes de barro misturados com o entulho das casas varridas pela corrente de lama que desceu o morro no dia da enxurrada.

A Satiko é vizinha da área da tragédia e seus donos não sabem se vão poder reabrir as portas. Não sabem se vão poder continuar morando ali e não sabem sequer se poderiam estar no local hoje. "O que mais queremos agora é saber se a gente vai poder trabalhar aqui ou não", disse Hadama. "Para nós, o verão está perdido. Agora só pensamos no futuro. Queremos saber se vai dar para continuar tocando a vida por aqui".

Todos se conhecem na pequena comunidade do Bananal. Entre as vítimas, estavam 12 moradores. O único corpo ainda não encontrado é o de Roseli de Brito. Desde o dia 27, os moradores não veem mais bombeiros dando seguimento às buscas. "A Roseli brincava dizendo que quando morresse ninguém ia achar ela. Foi o que aconteceu", conta Jonatan Silva.

Na momento da tragédia, Jonatan, 19 anos, estava na Pousada do Preto, localizada no centro da praia. Tinha acabado de sair de um bar onde conversava com amigos e os irmãos Leonardo e Leandro. Quando começou a ouvir gritos e pedidos de socorro vindos das casas vizinhas, pegou uma lancha e foi ajudar. Conseguiu trazer 30 pessoas que estavam na pousada Sankay - localizada na ponta da praia, onde três pessoas, entre elas a filha dos donos da pousada, Yumi, morreram.

Leonardo e Leandro não estavam entre os que se salvaram. Seus corpos foram retirados da lama pelos bombeiros nos dias seguintes. Com Roseli, os irmãos faziam parte da família que perdeu oito pessoas na tragédia. Apenas o tio, conhecido como Batista, conseguiu ser resgatado. Está em um hospital em Niterói (RJ). Segundo Jonatan e seu amigo Paulo Ricardo, que o visitam com frequência, ele tem dificuldades para caminhar e ainda não pode deixar o hospital.

Jonatan, que mora e trabalha no Bananal, prefere olhar para frente. Ele diz que a vida tem que seguir. Sobre os escombros, ele mostra o estrago causado pela força da natureza. Mas afirma que espera ver o lugar limpo novamente. Bonito como sempre foi.

Fonte: Portal Terra

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